O general Richard Nunes, secretário da Segurança Pública do
Rio de Janeiro, afirmou que a vereadora Marielle Franco (Psol) foi morta porque
milicianos acreditaram que ela podia atrapalhar os negócios ligados à grilagem
de terras na zona oeste da capital. Segundo afirmou em entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo, o crime que também
vitimou o motorista Anderson Gomes estava sendo planejado desde 2017, muito
antes de o governo federal decidir decretar a intervenção federal no estado.
O crime aconteceu em 14 de março deste ano, cerca de um mês
depois de o governo federal intervir na segurança pública do RJ . “O que
entendo hoje é que os criminosos superestimaram o papel que a vereadora poderia
desempenhar”, afirma o general, para quem o crime não foi uma afronta à
intervenção. Ele, entretanto, acredita
que o crime tomou uma proporção maior por ter sido cometido neste contexto.
De acordo com o general, Marielle atuava em área do Rio de
Janeiro controlada por milicianos, que tinham interesses econômicos de várias
ordens. “No momento em que determinada liderança política, membro do
Legislativo, começa a questionar as relações que se estabelecem naquela
comunidade, afeta os interesses daqueles grupos criminosos. É nesse ponto que a
gente precisa chegar, provar essa tese, que está muito sólida. O que leva ao
assassinato da vereadora e do motorista é essa percepção de que ela colocaria
em risco naquelas áreas os interesses desses grupos criminosos”, afirmou o
secretário
“A milícia atua muito em cima da posse de terra e assim faz
a exploração de todos os recursos. E há no Rio, na área oeste, na baixada de
Jacarepaguá problemas graves de loteamento, de ocupação de terras. Essas áreas
são complicadas”, disse Richard Nunes. Ele também avalia que Marielle poderia
provocar “uma conscientização daquelas pessoas sobre a posse da terra. Isso
causou instabilidade e é por aí que nós estamos caminhando. Mais do que isso eu
não posso dizer.”
Richard Nunes não garante que os envolvidos no caso estarão
presos até o dia 31 de dezembro, quando termina a intervenção. “O erro é
anunciar precipitadamente e essas pessoas virem a ser inocentadas por um
inquérito mal concluído. Não sou um ator
político, até porque continuo no Exército, vou seguir minha vida. Para mim, o
mais grave seria tentar, de forma precipitada, apresentar alguns nomes que no
futuro não sejam condenados. Centenas de depoimentos foram colhidos. Há 19
volumes de investigação. Nossa expectativa é resolver.” O secretário acredita
que alguns suspeitos podem já estar mortos. “Queima de arquivo ainda é difícil
de caracterizar. Mas porque são pessoas que vivem da prática de crimes com
certa frequência estão mais sujeitos a esse tipo de desfecho”, completou.
Para o general, as milícias se equivalem ao tráfico de
drogas. “O que há de perigoso nas milícias é o modo como ela explora
determinadas atividades. Ela é mais insidiosa. Porém, facções de tráfico têm
adotado práticas de milícia e vice-versa. Então, como secretário de segurança,
não há como estabelecer um grau de risco diferenciado. No momento em que a
milícia passa a aceitar o tráfico de drogas na comunidade de sua presença e
quando o traficante também se dedica a modalidades de crimes semelhantes ao que
a milícia tem realizado, para mim o cenário indica que temos de combater ambos
esses movimentos criminosas com a mesma intensidade”, contou.
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