Em tempos de eleição, pesquisas eleitorais ganham destaque
na mídia, oferecendo uma suposta visão antecipada de como se desenrolará a
disputa nas urnas. No entanto, quando um grande número de eleitores ainda está
indeciso, essas podem ser muito mais uma ferramenta de propaganda do que um
reflexo fiel da realidade. A situação se agrava com o envolvimento de veículos
de comunicação, que, em alguns casos, destacam resultados que favorecem
determinados candidatos, criando um cenário artificialmente positivo para quem
está à frente.
Pesquisas eleitorais funcionam como uma fotografia
momentânea da opinião pública. Mas, quando 50% ou mais do eleitorado ainda não
decidiu em quem votar, os resultados dessas pesquisas se tornam altamente
especulativos. Nesses casos, a pesquisa reflete apenas a opinião de uma parte
dos eleitores, ignorando completamente a outra metade que ainda não fez sua
escolha.
Esse elevado índice de indecisos transforma a pesquisa em
uma ferramenta perigosa: o que deveria ser um instrumento de informação se
torna, na prática, uma arma de propaganda. Candidatos que aparecem na frente
utilizam esses números para criar uma sensação de já ganhou ,influenciando
tanto os eleitores indecisos quanto aqueles que consideram mudar seu voto. A
mensagem subliminar é clara: “Se todo mundo está votando em mim, talvez você
deva fazer o mesmo”.
Não é segredo que muitas pesquisas são encomendadas e
divulgadas por veículos de comunicação que, de maneira direta ou indireta
pretendem influenciar o jogo eleitoral. Mais preocupante é a prática de alguns
veículos de promover certos candidatos.
Isso não apenas questiona a integridade das pesquisas, mas
também corrompe o processo democrático. Quando um veículo de comunicação
insiste na divulgação de pesquisas com alta margem de erro , porque reflete
apenas o que pretende metade do eleitorado ,ele não está apenas informando o
público, mas moldando a percepção popular de maneira tendenciosa. Isso cria uma
falsa impressão de favoritismo, contribuindo para um ciclo vicioso onde o
candidato em questão ganha mais destaque.
Diante desse cenário, é fundamental que os eleitores adotem
uma postura crítica em relação às pesquisas eleitorais, especialmente aquelas
realizadas em contextos de alto índice de indecisos. Devemos lembrar que,
enquanto uma parcela significativa do eleitorado não se posiciona, as pesquisas
não são mais do que uma previsão parcial e, muitas vezes, manipulada.
Transparência, ética jornalística e um processo eleitoral justo são pilares fundamentais de uma democracia saudável. Quando esses valores são comprometidos por interesses econômicos e políticos, quem perde é a sociedade como um todo. Portanto, cabe a cada eleitor questionar e investigar a fundo as informações apresentadas, antes de tomar qualquer decisão nas urnas.
Pesquisas eleitorais com altos índices de indecisos não
deveriam ser vistas como previsões definitivas, mas como indicadores frágeis e
possivelmente manipuláveis. Se manipuladas por veículos de comunicação elas
deixam de cumprir seu papel informativo e se tornam um mero instrumento de
propaganda, distorcendo a verdadeira intenção do eleitorado e minando a
confiança no processo democrático.
No fim das contas, quem decide o futuro do município não são
as pesquisas, mas os votos conscientes de eleitores bem informados, livres de
manipulações e influências indevidas.
Por Jane Nunes (Jornalista) - Manchete/RJ.