Precisamos aprender de vez que a democracia é mais do que um mero teclar na urna e votar no dia da eleição



Mais uma vez, estamos assistindo ao “filme” das novas eleições e agora em um país dividido. No cenário político nacional, a imagem que tem se apresentado ao longo do tempo é que existem donos do poder no Brasil que, nesta época, acionam a lógica política eleitoreira para manter seus feudos e principados, mas também o regime patrimonialista, em que o país seria propriedade de algumas pessoas e não de todos; um sistema paternalista, em que candidatos conseguem votos usando como moeda de troca promessas irreais, além da ilusão publicitária em busca de seguidores fiéis que faz com que palavras “mágicas” e sedutoras induzam os eleitores a achar que algum “salva pátria” finalmente está surgindo e que o candidato será bom dependendo das estratégias marqueteiras das redes sociais e não de um consistente plano de trabalho.

Alimentada há anos, esse tipo de política foi corroendo a ordem social, sabotando as bases do país e fortalecendo a estrutura que mantém de pé os privilégios que alguns “príncipes” têm sobre o resto da população seguindo a lógica do domínio do poder privado sobre a coisa pública.

Me parece que a memória histórica de nosso povo fica deletada nesse período e se esquece dos descaminhos da corrupção que insiste em se manter viva? Será que a impunidade continuará no trono protegendo políticos e empresários que vivem em relação incestuosa pela ganância do dinheiro e a situação do país vai chegando a limites nunca antes imaginados.

Precisamos aprender de vez que a democracia é mais do que um mero teclar na urna no dia da eleição. Por meio da urna, o brasileiro tem verdadeira arma contra a corrupção e esse sistema degradado de política.

Se deixarmos passar esta oportunidade mais esta vez, realimentaremos o sistema que até agora sobrevive. Então, em vez de sobreviver, precisamos alimentar o “SABERviver” que se tornará real pelo nosso voto em cada cargo elegível neste momento.

E o que fazer sobre política e Evangelho? Levar políticos em nossas comunidades e Igrejas? Política e Evangelho não se misturam? Pois é, vamos ser realistas, me parece, em geral, que deixamos de cumprir a nossa missão profética como Igreja (At 17.6), denunciando o pecado da corrupção, da péssima política, deixando de discipular efetivamente, com o Evangelho, líderes para a Nação, nos seus mais variados setores. Assim, sem a visão cristã de mundo, estes atores tomam decisões pelo país segundo seus interesses (e de seus lobbies), visão de mundo e ideologia, e vejam aonde chegamos.

Para escolher um candidato ou candidata podemos ter alguns critérios a partir de bom senso e da cosmovisão cristã, tais como:

  • Apoio à democracia e à liberdade responsável de pensamento e expressão;
  • Posse de passado limpo, inclusive familiar;
  • Apoio a ações anticorrupção promovendo em seu âmbito de atuação integridade no setor público e privado;
  • Valorização da educação e da formação do caráter desde as primeiras fases da vida, em vez da sexualização das crianças, especialmente nas escola públicas (cujo papel educacional é dos pais segundo o Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA));
  • Posição em relação às questões fundamentais sobre a vida: o abortamento, família, direitos fundamentais da vida, a forma da união matrimonial e cultura de gênero, se compatíveis com os ensinos bíblicos;
  • Em relação a gênero, qual sua posição sobre o tema nas escolas e nas políticas públicas?
  • Qual a posição sobre a redução da oneração de impostos para a população e real reforma de atuação do poder público em seus diversos âmbitos de atuação de modo que os impostos sejam transformados em serviços de qualidade prestados à população, tais como na saúde, educação, transporte, segurança?
  • Sendo o Brasil um país de desigualdades, tais como educação sem qualidade, reduzida oportunidade de empregos, capacitação profissional, saneamento básico etc., quais projetos e ações pretende implementar para minimizar o impacto dessas desigualdades em seu âmbito de atuação?
  • Quais os planos quanto às questões sociais? Como pensa em promover o amadurecimento das populações mais carentes com mais e melhor educação e capacitação profissional?
  • Sobre o cenário religioso: Qual a posição em relação à perseguição e preconceito religioso, especialmente contra cristãos, que se apresenta em nosso país, inclusive com demandas judiciais? Qual a posição em relação ao Estado laico?
  • Qual seu posicionamento sobre a situação nas áreas econômica e social do país? Sobre a violência generalizada e crescimento do poderio de facções criminosas?
  • Qual seu posicionamento sobre a legalização das drogas?
  • Como unir um país desunido e que demonstra não acreditar mais na classe política e judicial?

Talvez você possa discordar desses critérios e me chamar de preconceituoso, mas aqui o ponto não é de preconceito, mas de conceito, de concepção de vida de acordo com a visão de mundo que cada pessoa tem o direito de possuir em um país democrático. Como cristão compreendo que estes seriam alguns critérios razoáveis dentro de nossa visão de mundo.

Vamos lembrar que todos temos o direito de livre expressão de pensamento e consciência (Constituição Brasileira, Art. 5º, IV, VI, VIII, IX) apesar de muitas vezes vermos o contrário hoje. A escritora Evelyn Beatrice Hall utilizou a frase a seguir para descrever a postura de Voltaire diante da censura e da intolerância: “posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las!”.

Então se você pensa diferente, sinta-se livre em expressar seus conceitos sobre esse importante tema.

Estes seriam alguns princípios que, como cristão, posso sugerir em resumo para a escolha de candidatos neste processo eleitoral. Cabe a cada um escolher ser, ou não, inocente ou útil neste jogo, pois quem não reflete se torna vítima das ideologias, radicalismos e militâncias.

Por Lourenço Stelio Rega, teólogo, escritor e especialista em Bioética e Ética Cristã.

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