Na manhã desta quarta-feira (15/04), a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Teatro Invisível, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa que atuava no estado do Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Cabo Frio, na Região dos Lagos, é uma das cidades que mais se destacam nas investigações, tanto pelo volume de indícios levantados quanto pela presença de figuras públicas locais entre os alvos da operação.
De acordo com a Polícia Federal, estão sendo cumpridos 10 mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos investigados nas cidades de Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba, São João de Meriti, Rio de Janeiro e Juiz de Fora (MG). A Justiça também determinou o bloqueio de aproximadamente R$ 3,5 bilhões das contas dos suspeitos, além da suspensão das atividades econômicas de oito empresas envolvidas no esquema.
Cabo Frio sob os holofotes
Entre os principais alvos da operação está o atual prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL). A investigação aponta que empresas ligadas ao gestor público estariam entre as que firmaram contratos considerados irregulares com o poder público, desviando recursos para atividades ilícitas, incluindo o financiamento de campanhas eleitorais com recursos não declarados.
Segundo a PF, parte dessas verbas teria sido utilizada para bancar encenações teatrais em locais públicos, com o objetivo de influenciar o eleitorado durante o pleito municipal de 2024. A estratégia consistia na contratação de atores para representar discussões e episódios polêmicos em locais de grande circulação, como feiras e terminais de transporte, encenando situações de suposta corrupção ou violência ligadas a adversários políticos.
Investigação revela sofisticada rede de fraudes
A Operação Teatro Invisível II é resultado da análise de provas colhidas durante a primeira fase da investigação, deflagrada em setembro de 2024. À época, quatro pessoas foram presas, e o grupo já era suspeito de manipular a opinião pública por meio de peças de teatro político improvisadas, com roteiros cuidadosamente elaborados para parecerem espontâneos. Tudo era gravado e distribuído nas redes sociais, geralmente acompanhado de textos que reforçavam a veracidade das encenações.
Nesta segunda etapa, a Polícia Federal identificou uma estrutura ainda mais complexa por trás do esquema. De acordo com os investigadores, a organização criminosa atuava em várias frentes: destruía provas digitais que poderiam comprometer seus membros, movimentava grandes somas em dinheiro vivo, utilizava contas de passagem para dificultar o rastreamento dos recursos, e mantinha empresas com ampla atividade econômica para lavar o dinheiro desviado.
Essas empresas, segundo a PF, também participaram de processos licitatórios fraudulentos em pelo menos quatro municípios fluminenses: Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e São João de Meriti. A prática recorrente de simular competição entre as empresas do grupo visava garantir contratos públicos sem o devido processo legal, driblando as exigências de transparência e isonomia.
Política, desinformação e desvio de verba pública
Outro ponto que chama atenção nesta nova fase da operação é o elo entre o uso da desinformação e o desvio de recursos públicos. Conforme a investigação avançou, a PF descobriu que o dinheiro utilizado para financiar os atores e as encenações vinha de contratos genéricos celebrados entre as prefeituras e as empresas investigadas. Na prática, serviços inexistentes eram contratados e pagos com recursos públicos, para depois custear ações de manipulação eleitoral.
O prejuízo estimado aos cofres públicos gira em torno de R$ 3,5 bilhões. Segundo a PF, o grupo agia de forma estruturada, com divisão de tarefas e uso estratégico da comunicação para influenciar a população e favorecer determinados candidatos. Entre os investigados também estão nomes conhecidos da política fluminense, como o deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), que concorreu à prefeitura de São João de Meriti, e Aarão (PP), que disputou as eleições em Mangaratiba. Rubão (Podemos), candidato em Itaguaí que chegou a vencer o pleito, mas foi impedido de tomar posse, também é alvo da operação.
Continuidade das investigações
A Polícia Federal informou que a investigação continuará para apurar a eventual participação de outros envolvidos e elucidar fatos conexos. Os crimes investigados incluem obstrução de Justiça, lavagem de dinheiro, fraude em processos licitatórios e caixa dois. Caso sejam condenados, os suspeitos poderão cumprir penas que, somadas, ultrapassam os 27 anos de reclusão.
Até o momento, não há mandados de prisão expedidos. As buscas têm como objetivo reunir novas provas para fortalecer a denúncia do Ministério Público Federal e permitir o aprofundamento da responsabilização dos envolvidos.os poderão cumprir penas que, somadas, ultrapassam 27 anos de reclusão.
Procurada, a Prefeitura de Cabo Frio ainda não havia se
manifestado até a publicação desta reportagem. A defesa dos investigados também
não foi localizada.
*Com informações das Agências de Notícias.
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